4 partes da escrita
Escrever pra mim é sempre em quatro partes: observação, ideia, ação - o escrever em si, correção.
Na observação, é preciso sentir com todos os sentidos os detalhes de acontecimentos, observar além daquilo que realmente se vê. Estar sensível para absorver a história de todas as nuances possíveis, engolindo todas as vivências. O final do processo, é escolher de qual ponto de vista vai essa história vai ser contada, agora observando ela a partir da imagem de quem a lê e quais sensações ela passa, também qual é o objetivo da escrita.
A ideia acontece depois do viés que a observação trouxe. É aqui que geralmente a trajetória de quem escreve se mistura a de quem viveu a história. Acredito que a escrita tem uma pitada de ego no limite perfeito entre ser egocêntrica e não, afinal é praticamente impossível que qualquer palavra saia da cabeça de quem escreve sem que ela tenha sido escrita pela própria pele.
A ação é o momento que finalmente todas as sensações de medo de se expressar passam. A vontade de tirar a ideia da cabeça e de realmente achar que uma letra qualquer na escrita possa levar alguém a refletir junto se torna a força que move os dedos pelas teclas, escrevendo cada parte com um certo entusiasmo e inspiração.
A correção é aquele momento que voltam as sensações de insegurança. Será que faltou ponto? Essa entonação demonstra o que esse texto reflete? Essa vírgula está certa? O tempo verbal faz sentido? Escrever é complexo, é um trabalho árduo. É como se todo o sumo da laranja tivesse se tornado suco e alguém fosse beber. Aqui mora o processo de peneira. Em algumas vezes essa lapidação tira partes importantes do texto, mas o questionamento aqui é que não entregar toda a história e deixar lacunas, ajudam que aquele que lê, as preencha com as suas trajetórias e se identifique. Que a partir daqui o leitor ou leitora possa observar, ter ideias e escrever fechando o ciclo que toda pessoa que escreve deseja. Inspirar e ser inspirado é a ferramenta que emancipa de uma vida medíocre e sem rumo.
