Banho gelado, raiva quente

Pamella Biernaski
2 min readOct 13, 2021

--

A água fria caía no meu corpo como pequenas espadas de corte. A raiva em forma de chama esquentava tanto meu peito que se fosse possível, a água poderia até evaporar ao tocar minha pele. O sangue corria acelerado nas veias como se fosse corrida de carro e o coração acelerava quase perdendo o compasso. Por que algumas pessoas tem direito a um banho quente e outras não? Por que o banho quente é uma dignidade tão frágil? Por que os chuveiros elétricos estragam tanto? Por que essa cidade é tão fria? Se nosso hábito de banho é ancestral indígena, por que algumas pessoas simplesmente não tem o direito a um banho? E não é só sobre o banho, sobre um chuveiro quente e um banheiro decente, é por certos privilégios que talvez nunca possa vivenciar. É por perceber que muitos de nós, vivemos isso achando que é o normal e mal nos questionamos sobre o que é o básico do viver bem. O pior é quando surge um cara que se acha muito esperto dizendo que banho gelado melhora nãoseioque e faz você ficar mais produtivo. Que porra de produtivo? Eu só quero descansar meu corpo, amolecer minha carne, relaxar minha cabeça, lavar a minha alma, deixar escorrer no meio de vapor e xampu toda essa raiva que carrego para pelo menos poder dormir bem e acordar no outro dia pra tentar sobreviver de novo.

--

--

Pamella Biernaski

Alguém que por meio das palavras, busca ver por outros olhos e ser vista por novos olhos. Erros de português e ativismo são características dos textos por aqui