O final da odisseia terrestre
Nos primeiros minutos acordada nesse dia, li sobre uma nova variante do coronavírus que apareceu na França.
Explicando para leituras futuras: hoje é 16 de março de 2021 e nós estamos há mais de um ano trancados em casa a nível mundial, por conta de um vírus letal transmitido pelo ar — ou um pouco além disso.
No mesmo grupo que eu recebi essa notícia, a frase
“é apocalíptico, mas eu cantei minha Pequena Eva mentalmente, ainda tem um lampejo de bom humor no caos”
ressoou aqui a ponto de me fazer sentar para escrever sobre essa frase.
O carnaval é uma das forças que me movem e dão tesão de vida. As trocas sociais, a liberdade, a cultura, as músicas, os ritos, são como um maravilhoso laboratório para alguém que adora observar o comportamento humano, e não só, se conecta muito rápido e forte com a minha pulsão de vida.
Me pego frequentemente fazendo planos sobre guardar dinheiro mensalmente para ir até Salvador em um carnaval, passar uns dias pegando bloquinhos no Rio, ver o Galo da Madrugada em Recife, ver um mar de gente em São Paulo. Voltar mais uma vez pro carnaval de rua da Juréia e até mesmo curtir com os meus amigos no carnaval de Guaratuba.
Mas nesse momento esses planos todos são tão superficiais, delicados a ponto de se quebrar a qualquer instante, afinal não temos a mínima previsão de saber quando a quarta de cinzas da pandemia vai chegar. Ao passo que a sensação de estar trancada nos momentos de mais energias da minha jovem vida, escapam pelos meus dedos feito areia de praia mostrando tão somente a pulsão de morte.
Aqui não tem arca de Noé, astronave e possibilidade de voar. Mas a possibilidade da terra ser reduzida a nada nada mais é cada vez mais forte. Apocalíptico e com lampejo de bom humor. Que na avenida da vida, nós possamos sobreviver e não deixar o samba morrer. Que tenhamos forças ao menos para poder viver só mais um carnaval.
- Gritos de uma carnavalesca que sente falta do carnaval.
Esse texto faz parte de uma série com diversos outros textos, espero fechar 30, onde a ideia é exercitar minha escrita, tirar da minha cabeça algumas histórias e montar um espaço onde sinto que posso ler e ser lida.
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Gracias!